20 outubro 2006

Escadas do Céu



Quanto mais penetrava no vale do Douro, mais sentia a pequenez, adivinhando a migalha que somos neste canto do mundo.

Francisco Gouveia
As Escadas do Céu, romance, 1999


06 outubro 2006

O Comboio Azul

Apeamo-nos finalmente na estação de Campanhã. Uma fila de carruagens sobre a linha do tramway. Um rumor diligente e alegre de tamancos novos sobre os largos passeios lageados.

Apeemo-nos pois, e saudemos o Comboio Azul que, entre os maquinistas, traz o Jorge Ricardo Pinto - que tão boas provas deu no excelente Avenida dos Aliados - de volta aos blogues. E brindemos, porque o Comboio trará, seguramente, a leitura de brilhantes textos sobre o Porto e a contemplação de belas imagens.

05 outubro 2006

Frente e verso

É uma agradável surpresa entrar no edifício de fachada cinzenta, austera e clássica da Caixa Geral de Depósitos, e deparar com as cores vivas, o ritmo e os padrões geométricos que caracterizam a Art Déco, na Galeria da pequeníssima antena da Culturgest, no Porto. Um espaço vivo e conservado de que se recomenda a contemplação.

Na Outra Face da Cidade Surpreendente está à vista o verso desta página. No mesmo espaço monumental, o da Avenida dos Aliados e da Praça da Liberdade, pode observar-se o estado deprimente do interior do edifício do antigo Café Imperial, café que, seguramente, teria tido o mesmo destino dos pisos superiores do prédio, se não tivesse sido renovado pela McDonald's.







02 setembro 2006

Tranquilidade



O estuário do Douro ficará por aqui, como metáfora de espaço e liberdade, durante algum tempo, enquanto desfruto das amenidades de Setembro noutras paragens. A Cidade Surpreendente regressará no próximo dia 20.

30 agosto 2006

Em Santa Catarina

Santa Catarina irá entrar em obras. Já tinha sido anunciado, contudo, hoje, pela manhã, o Janeiro trazia dados mais concretos. Finalmente há prazos e preços. E vontade, também, para levar a cabo uma ideia que já vem de 2001.



Serão repostos, num pequeno trajecto da rua, os carris dos velhinhos eléctricos, possibilitando a ida do Carmo à Batalha descendo os Clérigos e subindo 31 de Janeiro, e o regresso, de novo a descer, por Passos Manuel até aos Aliados, e voltando a subir ao Carmo pela Rua de Ceuta. Um percurso que se adivinha encantador.



Ignoro o que irá acontecer a Santa Catarina, que parte será renovada, e desconheço o projecto. A rua é tão longa que vai da baixa à alta ligando duas praças. É uma rua de bom traço vinda dum tempo em que se fazia bem a cidade. À semelhança do vale do Douro, e do Porto também, está assente num socalco artificial, construído entre a Batalha e Gonçalo Cristóvão. Daí sobe segura até ao Marquês.

Irá seguramente resistir, até por que o pavimento da parte pedonal é desgracioso. O casamento de blocos de betão com calcário e basalto é infeliz. E a iluminação e os inúmeros obstáculos que por lá semearam as sucessivas vereações camarárias também. É como se a rua que veste casaca calçasse chinelos.







Aconteça o que acontecer, aqui ficam algumas imagens deste Verão, em Santa Catarina, para mais tarde recordar.

16 agosto 2006

Finalmente...



Finalmente surgiu do ar, a única prevenção eficaz contra os fogos de Agosto, a chuva. E A Cidade Surpreendente entregou-se à contemplação das nuvens redentoras, algures no vale do Douro, encantada com a possibilidade de olhar em redor sem entrever uma única mancha de fumo. As noites frescas e os aguaceiros são, de facto, um preço baixo a pagar pela preservação da paisagem natural e uma excelente defesa contra a barbárie incendiária que nos tem assolado nos últimos anos.

07 agosto 2006

Agosto no Porto

Primeiro vem a ameaça, no mês de Julho, com fogos de média dimensão um pouco por todo o distrito, a anunciar a catástrofe.


O céu a nordeste...

Quando chega Agosto basta a temperatura subir um pouco e o inferno aí está, invariavelmente, espelhado no céu. Foi assim no Sábado e no Domingo. O fumo no ar, a atmosfera irrespirável, o cheiro a madeira queimada que penetra em tudo...
Hoje de manhã, porém, o horror foi maior - como se fosse possível. O Sol, de um dia anunciado com céu azul e limpo, nasceu encoberto por um espesso manto de fumo, entre o negro e o amarelado da luz solar, que cobriu a cidade e fez as aves recolherem.


... e a noroeste

O monstro estendia-se por quilómetros, de nascente a poente, e ali esteve durante horas, ameaçador, largando cinzas ao vento. Depois dissipou-se em neblina, pairando ainda por aí neste fim de dia sufocante em que a rotina voltou a instalar-se.
Ontem em Paredes, hoje em Valongo, amanhã... não interessa. Já não acredito. É assim há anos. O festim dantesco continuará a desenrolar-se em Agosto, perante a indiferença e a inconsciência colectiva, até que se instale o deserto e nada mais haja para arder.